segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O navio lá longe atravessa a Pedra do Arpoador; o tempo, da pedra o mergulho, onde o meu amor?


Noites nas tuas mãos; ao amanhecer, onde esconder a corda com a qual me ataste e me exibiste subjugada ao teu coração?
Teatro, não me tires a máscara, deixe-me o vestido de noiva...


 Teatro (2): Tira-me a roupa, não me verás nua; tira-me a máscara, ver-me-ás através da pele.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Frágeis os artelhos que me sustentam, mas o que mais desejo eu? Sou tão leve quando te amo...
Ofego, minha respiração ao final de uma corrida, meu coração quando lanço-me em teus braços!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Os anjos leem meus poemas, mas apenas aqueles que despencaram do céu.
O poeta alça voo, suas asas de cera não cedem ante o sol da Árcadia...
Avalanche? Meu corpo. Aquieta-me com o teu gozo.
Perfume no ar, sou eu que passo; no teu nariz? Me desfaço...
Mergulha-se num mar frio assim e vem logo um arrepio... Quanto a gente sai da água, o sol é saliente, como demora a emprestar seu manto.
Oh, tantas as notícias... Só não sei por onde andas.
Segredo: queres me comprar com um cheque em branco, com um cartão de crédito? Despoja-me, vende minha pele. Assim, jamais te abandonarei...
Me procuras? Ou me queres porque estou nua?
Me ignora, mas não tira a minha roupa!
Tudo passará, disse o sábio ao rei, tudo passará, ouviram os convivas, tudo passará, acabada a festa...
Todas as palavras num jorro: dicionário; todas as frases: um armário. Melhor as naus que descem o Tejo, o poeta perdulário...
Quantos séculos são necessários para que se forme uma língua? Quantos os poetas?
Escrever em tempo real, escrever, ser sempre leal.
Tantos os tropeços, ora falta uma vogal, ora uma sílaba; devorei-a, dentes rubros. Oh, ser poeta, tantos os deslizes, melhores os infelizes.
Saltas da pedra do Arpoador, um mergulho límpido como o sol que sobe à esquerda, distante ainda dos aplausos do fim do dia...
Estátuas à beira mar, poetas, músicos, jornalistas. Quem sabe deles um verso, uma melodia, uma linha da notícia? Estátua, eu, de sal...
Ah, teu deus, não tens dele o nome?
Nome, sobrenome, renome, antinome, sorvete, argh! de silicone?
Comédia dos Erros, protagonistas: Romeu e Julieta, como A mão e a luva da Cartomante, Meu Deus, que Tempestade, dê-me o livro, Desassossego!
Aves do mar que voam em círculos, embarcações que fecham o cerco. Todos à pesca do cardume encurralado ou à caça da nudez de uma sereia?
Piratas (tão na moda os piratas), levem-me, sou tão leve, vou na prancha, rente ao mar, embainhai vossas espeadas, apenas olhos a me marear.
Mar e ar, marear, miramar, teus olhos a me amar, a ladrar tanto mar, ou a uivar?, tanto mar, sou sereia, fora d'água não posso te acarinhar.
Alcatrazes a retornar do mergulho com o alimento ao bico, peixe miúdo que se deixou levar...Que ave maior a mergulhar, a me lembrar de amar?
Musa que surpreendeis poetas à flor da pele, guiai-me sã entre o vocabulário, não me deixai tropeçar na sintaxe de escapulário...
A palavra não vai nua, tem sempre mil disfarces, eu, a poeta, ao achincalhe, sempre sem a roupa que me calhe...
Oh, tão difícil um leitor, como não se conseguir livrar de uma dor...
Poesia sem texto, apenas imagens? Miragem...
A palavra não é touro nem toureiro, mas pano vermelho. Frágil, não serve de proteção e, às vezes, pode vir banhado em sangue.
Tudo leva ao ceticismo, mas há o corpo, o arrepio.
Hóspedes de banquetes, devora meu coração!
Andanças, eu de tranças, se tenho esperança? Teimosos todos nós, esperar não cansa... Mas, será? Uma pá, melhor nua a namorar.
Morro de amor... Será mesmo que morro? Dias a fio velo por mim.
Quedas e levantes, soldados e seus escudos, "Molotov, traga meu coaquetel", meu garçon não falha, tomo um drinque à beira do mar...
Formigas invadem-me a alma, meu coração já foi levado aos pedacinnhos...
Oh, estômago, pra que te quero? Tanta a saudade...
Beliscões? Provas bem o teu amor!
Chuva no telhado, escorrego, caio a teus pés, sol destrambelhado, queimo a sola, mas não te faço rapapés...
Meu gato, aquece-me com teu edredon; papagaio, grita meu nome, chama meu amor por mim...
Rima e métrica, meu vestido, dói-me os artelhos, ele,o vestido, nunca passa do joelho...
Manhã, hora em que os poemas se apresentam naturalmente, acho porque ao acordar, vão ainda desatentos...
Segredo: vai à beira-mar, deixa caniço e anzol, diverte a ti, toma sol; depois volta, pega teus poemas, que te esperam quase ao guardas-sol.
Respingos do andar de cima, o ar-condicionado sempre ligado; o verão de Copacabana na janela dos fundos, o café da manhã, a alegria do amor.
Pedaços do amor, um beijo, uma carícia, tua mão que me toca sutil, eu ainda a vestir-me, som ao devaneio, chamas o meu nome, outras chamas.