quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Escrever é correr riscos.
Melhor assim, talvez um cisco.
O que vês quando olhas a mim?
O quadro que tu mesmo pintas?
Ah, que risco corro eu...
Escrever em tempo real.
Como se conhecesse o tempo.
Como se existisse o real...
Areia que despejas,
como a ampulheta,
vagaroso sobre o meu ventre.
Mistura-a com mel.
Estragas o tapete da sala!
Amanheceu.
Não me deixaste ir.
A uma mulher basta deixá-la nua.
E ela não tem como sair.
Mas a mim,
Aprecio o escândalo!
Não me roubes.
Deixa minha roupa sobre o corpo.
Sei, sei, tudo é amor,
chamas a mim até de Flor...
E dizes que desejas levar-me as pétalas...
Apenas uma lembrança.
O que sobrará?
A dor?

Venha até aqui,
escuta a minha história.
Dizes que não há história, apenas espanto?
É o Esperanto.
Mais que incomunicável.
A palavra
Esse conjunto de sons.
Música de que só quero o som.
Todos os sentidos um dia se perdem!
O futuro está alguns segundos à minha frente, Mas você não se chama futuro.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Queres a Gioconda? Ela não posa de corpo inteiro.
Corre. Alguém passa na porta. Corre, corre. É o amor? Nem tanto. Assim seria muito fácil.
Ah, o tempo. O tempo passa. Reclamas que te falta a minha poesia. A poesia não falta. Faltamos nós. Vamos à leitura.
Uma coisa branca, e me pedes a poesia. Uma coisa branca que não sei definir. Manchas o sofá da sala de estar...
Sagrada a tua bebida. Embebeda-te na tua própria poesia. Meu corpo, laços, fazendas, mínima praia. Não o bebes, longo o dia...
Não tragas a ciência nem as palavras plenas de contorno ao meu caderno. Minhas pernas traçam dois rios. Fios que te enlaçam.
Não queiras meu lenço, lenço de Marília; Marília já se foi; é outro o tempo, outro o céu. Meu lenço meu corpo, não serve para o que desejas.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Bandeira a envolver-me o corpo, a tingir-me de desejo, no verde da floresta.
Paisagem noturna, névoa que não quero dispersa, roupa provisória que quero eterna.
Um sítio para estar sozinha, e poder andar em pele, arrepiar-me com dez dedos...
Eu, tua primeira namorada? Me escondia debaixo do fogão. Lugar tão quentinho.
O rio é sempre o mesmo, águas que sempre voltam, nem que seja o suicídio grato das gotas de chuvas.
Amor, fumaça? Intoxiquei teus pulmões.
Amor, fumaça? Intoxiquei teus pulmões.