quinta-feira, 28 de março de 2013

Desvencilhar-me dos meus vícios, escrever uma poesia pura. Teria de lavar infinitamente as minhas mãos... Não sobrariam mãos.
Não gosto de rios, não gosto de Heráclito. Quero sempre as mesmas águas..
Magia: Queres o poema profundo, que te toque a alma, que te libere dos desatinos. Mas atravesso a rua de uma cidade grande. Vou urbana.
Luvas,.. Minhas mãos não sentem teu calor.
Espera-me. Queres de mim o que não posso te dar. Espera-me. Queres de mim revelações. Talvez uma Clarice. O máximo que te ofereço é o vazio.
Barroca. Mil volteios, o mesmo lugar. Todo o dicionário; todas as combinações, sintaxes eruditas. Quis Gôngora. Bateu-me à porta Cervantes.
Procuro um assunto. Assusto-me, O poema sobre a falta de. O poema é sempre sobre uma falta. Falas sobre tudo? Falas sobre nada.
Canta-me a esperança. Quem espera nunca alcança... Ou não? Quem espera, a lança. Melhor na mão do artilheiro.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Se o mundo é tão ruidoso, faze do avesso do mundo o teu poema...
Poemas espelham inquietações, poemas espelham amanheceres. Amanheces sempre inquieto?
A poesia: silêncio, pássaros não voam à noite.
Atiras-me facas, sempre o mesmo truque; as setas, arqueiro. Onde escondes o arremesso?
Sussurros, gemidos, depois a morte, ainda que pequena. O sono.
A voz, o canto, curto o espaço entre duas eternidades. Explosões estelares, apenas.
Tuas mãos, teus dedos, piano o meu corpo... O que mais nos restará?
Olvido: o perfume torna fresca a memória.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Queres o meu sorriso? Tê-lo-ás. Pega-o, dependura-o na parede da sala. Toda Monalisa é uma máscara.
Olha a mim. Já não trago as cicatrizes? Repara a minha alma.
Longa a pausa entre um poema e outro; longa a pausa entre o ponto e o reinício. A pena sobre a mesa. A gestação... Todo poema é um parto.
Ser diferente? Todos os homens, todas as mulheres... Talvez as cigarras, o mesmo canto.
O que resta... o que cresta... o sol.
Verdade... Cada um tem a sua. Desde que não deixe um rastro de sangue.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Não, não te mates. Ou já morrestes? Não, não te mates...Mas se já vais a correr, se já vais a meio caminho, lembra-te, ainda é longe o chão.
Férias, um beijo perdido (ou ganho), numa estação, junto com o sol, logo de manhã...
Adormecer nos teus braços... Ou simplesmente adormecer nos teus sonhos, sentir-te invisível ao toque sútil da imaginação que me roça a pele.
Deixa-me esparramar sobre o sofá, deixa-me as palavras fluírem, saírem pela janela, perderem-se longe de mim, de ti, entre olhos alheios.
Ias sem camisa. E lá atrás o mar, a arrebentação. Não sei por quê, achei que as espumas brancas combinavam com teus dentes, com teu sorriso.
Andar a pé... Nada de lutar contra o verão. E se chover, nada mal uns pingos sobre a cabeça, o cabelo molhado. Andar a pé envolta em branco.
Comove-me sempre ouvir um coro de meninos. Tão felizes esses meninos. Suas vozes revelam que o mundo é feito todo de música.