sexta-feira, 30 de março de 2012

O vento atira-me de um lado a outro,mas já não o percebo; a pele salga, mãos negras, algas, o fogo lá no alto; e me quero a amar, tão logo!
Qual a matéria da poesia?Toda, mesmo a pilhéria.Que matéria do dia a dia?Sempre deletéria.O que me move arredia?A falta, pauta que me guia.
Trabalhadores do mar, explorais o negro minério, riqueza inesperada achada talvez em má hora, estrangeiros todos os impérios, Respiro óleo?.
Ficção? Ah, ontem, sempre o passado, há quem não viva sem uma lembrança. A rua, alguém na manhã nova e fresca, que destino hei de lhe dar?

quinta-feira, 29 de março de 2012

Pecados e pecadores, o corpo sempre interditado. Pecados e pecadores, o corpo sempre amordaçado. Permitido? Apenas como ideia, os amores.
Cordas, são tantas: as do violino, do piano, do violão. Puxas a cortina? Talvez as do relógio; ah, o tempo...Cordas, uma para o meu pescoço.
Bicicletas? Antiga a roda que gira, e vai o mundo todo puxado por uma corrente. Atlas já não sustenta a Terra...
"Amor Próprio"
Cacos junto à pia, um copo quebrado. Embriagada. Entusiasmo ante a minha própria companhia.

terça-feira, 27 de março de 2012

Como querer palavras para dizer toda beleza? Não há palavras, talvez não existam belezas. Apenas pontos de vista, impressões, e mais nada.

sábado, 24 de março de 2012

A capa do dia, talvez máscara, casca do dia a dia, talvez árvore. Onde a seiva? Vê a mim, sou caule. Não queres a luz; sugar-me-ás, áurea?
Catadores, o dia a dia, o alimento pesado, medido, transformado... Oh, por que não queremos saber dos nossos resíduos?
Tudo na vida cansa, menos o amor, seu viço, seu serviço, o amálgama do seu calor.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Por que queres minha pele nua, descoberta, sob o chuvisco noturno? Deixa-me a chover, a transbordar todas as gotas do amor que sinto por ti.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Aprecia o som das palavras, as pausas, o efeito tênue de um semitom.Acostuma teu ouvido à beleza da voz humana. Procuras um sentido? Ora...
Ouves a música? Não será música, talvez. É a força contra a qual nada podemos. Também te trocaste pela máquina mercante? Sem ela, infante?
Ouviste os tiros? São nossos fardos,os carregamos durante tanto tempo. Ouviste mais uma vez? Quem há de ser por nós? Nossos filhos, talvez.
A terra nos cola ao corpo, o vento gotejando, poeira, o grito mais agudo que o osso.
A secura das palavras. cana no agreste, pássaro solitário, mudo; o assobio, mas apenas o vento.

sábado, 17 de março de 2012

Tão curto o tempo. Lamento. Onde o poema? No vento.
Margarida, tantas as flores. Margarida, tens mil amores. Amores? Sinônimo de dores.
Aperta-se cá e a palavra escapole lá. Cerca-se o verbo, aparenta ser tão terno, mas vem o vendaval e leva-me a roupa do varal, inferno.
Tanto tempo sem resposta e tantas as apostas. Como no jogo de sinuca. E eu, dou beijos de mil sabores, todas as frutas,
Brincadeira, sementeira, gravetos na lareira, e meus poemas... quero que me leia. Não! Poesia não se regateia.
Mora, demora, não chora, que vou fora de hora, agora...
Meu amigo me escreveu dizendo que da palavra amor se tira tanta coisa. Até um ramo, caso eu aceite, de Roma, seus juros de mora.
Existem tantos assuntos neste mundo, e vais mudo, ou como o rio, apenas o rumorejo.
Vaidade: a palavra certa, o texto enxuto e aprumado como seta. Sobre o que falar? Aí já não se acerta...

sexta-feira, 16 de março de 2012

Sexta à tardinha, ocaso da semana comercial. Às primeiras manchas no céu, estrelas e mais estrelas; à minha cabeça, peço que me tires o véu.
Poucas as palavras, única a frase, o lusco-fusco ante a noite que se avizinha no deserto.
Invado tua língua, transbordo-me, palavras e sintaxe estrangeiras, deixo nos teus lábios o sabor amargo do exílio.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Cota-se a bolsa, Tóquio, Seul, Cingapura. Leiloam-se moedas:euro, real, o dólar. No afã não se compra poesia. Bom, que não vá mal, mas pura.
A língua nos aproxima, mas preferimos as palavras que nos afastam.
Chuva e sol como metáforas; primeiro, as lágrimas; segundo, afagos; onomatopeias e hipérboles sensuais. Perco-me entre a natureza acidental.
Amor inconcluso: Você e minha gramática, erro de concordância.
Escrever, tanta a vontade, ampla a possibilidade, mas quais as palavras? Foge-me o assunto, lobo astuto, rápida a raposa, a mim só espinhos.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Passeio pelo presente, tão exíguo, e meus passos pequenos como jamais. Mas vou, equilibrista, ainda que alta e curta a corda.
Escrever, tanta a vontade, ampla a possibilidade, mas quais as palavras? Foge-me o assunto, lobo astuto, rápida a raposa, a mim só espinhos.

domingo, 11 de março de 2012

Critica o meu comportamento, mas não peças depois para me atirar em teus braços. Não tenho todo esse talento.
Poda da uva, cachos que se misturam à minha embriaguez.
Às vezes, à hora tardia, no vestíbulo da viagem noturna, teu corpo, ainda que imaginário, arrebata-me ao arrepio, enquanto rolo pela cama.
Melhor sempre o sonho do que, insone, amargar o lento avançar da noite.
O fruto de hoje nas mãos, só o de hoje, nada mais.

terça-feira, 6 de março de 2012

Tanto o trabalho, duras as penas. Mas se gostamos, ainda que duras, decolam como asas as penas...

domingo, 4 de março de 2012

Queres me sempre no crônometro último, sombra noturna e escorregadia, o risco constante; surpreendam-me pupilas doiradas, homens matutinos.
Saudade... Presença do ausente, mas apenas na névoa frágil, fugaz como o domingo.
Fugidio o pássaro, fugidio o tempo, fugidio o domingo. Quanto durará a sessão de cinema?

sábado, 3 de março de 2012

Tão curto o espaço. Mas de que me valeria larga a casa? Perder-me-ia em seus cômodos vazios.
Ó Musa, sutenta meu canto enquanto escrevo, é o único momento em que existo.
Nua, quero que me namores até finda a madrugada. Esqueço de uma vez por todas os poemas, as palavras. Nossa língua apenas, nossos corpos...
Às vezes para escrever um poema é preciso friccionar pedra com pedra até sair faísca.
Um dia vence a argumentação. Mas até lá muitos os mortos, mártires da revolução.
Palavras, palavras, tão frágeis ao som do trovão.
Tão difíceis as manhãs sem ti. Perdida a música com que me despertavas. Tempos de guerra. A poesia não tem poder quando salgada a terra.
Quantas vezes tenho de dizer que este sol me enlouquece e faz que meus poros procurem os teus...
Deixa-me nua, leva minhas roupas, sempre te amarei, ainda que louca.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Nos dias de hoje já não é preciso paz aos poetas. Poemas trafegam em meio aos autos, e vai o poeta, ser vulgar, também a poluir o ar.
Às vezes na falta de inspiração, vem você na contramão...
Carícias as palavras, minha a lavra. Ouro em pó? Te dou pedaço de pão-de-ló. Preferes outro presente, sonata em dó... Melhor meu corpo, só.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Tens coragem de me abandonar mesmo depois de tantos poemetos? Compreendo que com outros te comprometas. Sabes da aragem? Ao céu a plumagem.
Manhã em que procuras novidade, feliz mensagem, notícia que te tira a desvantagem. Lês meu poema, talvez não o entendas, tantas as bobagens.
Bons os dias, dizes. O sol, o mar, a brisa, sem tempestades e à noite o luar. Bons os dias, respiras, e te fias, carretel prestes a acabar.
O coração sempre aos saltos, e sempre o desacato. Ainda me queres, dizes, e com recato. Pedes calma. Fazes-te lato. Mas abandonas. Distrato.
Quando chegas para dizer que me amas? Às vezes, penso: tudo, invenção minha. Tanta a sede, e seca a vinha, já não basta ao pescador a rede.
Rede que deixa passar todos os peixes, escapadas sempre desiguais, talvez virtuais. Distantes os nós que compuseram essa rede, minha a sede.
Cata-me, leitor, sou percevejo; já disseram, dos insetos o mundo em que sobejo.Cata-me, leitor, rol infindável, em que ilha perdida te vejo?
Perdido o poema? Submerso, milhões as mensagens, rol infinito, todas as línguas. Perdida eu, milhões os poetas? Bilhões, habitantes ascetas.