quarta-feira, 5 de abril de 2017

O cometa leva-me, cauda que transparece a todos os céus. Tu me admiras, iluminada, teu o sorriso.
Coisas querem partir. Viagens à volta do mundo.
A língua materna é macia, as palavras escorrem luminosas.
Casa em que nasci, impossível demoli-la.
Fujo da redoma azul, mulher nua em exposição!
Arqueóloga, escavo, cidades antiquíssimas. Onde os quartos de amor?, palavras em línguas remotas, sons que se amoldam aos lábios meus.
Um canto dentro da noite. Voz alheia ou lugar para despertar-me a alma?
Minhas mãos, tão estranhas, mergulhá-las num mar oceano? O mar é bravio. Gotículas longínquas, explosões, estilhaços cavam-me a alma.
Falar sobre gatos? Eles, tão alheios. Meus dedos entre seu pelo.
Poemas encomendados... Quanto o metro? Decassílabo coût plus cher. Redondilhas? Preços medievais. Modernista? Onde a máquina de calcular?
Entre anêmonas azuis... Belas as palavras, fluidas, corpo e bolinhas de sabão.
Do escuro do meu quarto, tenho todos os sonhos do mundo. Mas sinto apenas ligeiro tremor à minha pele.
Saudade veio do oriente, passou pelo árabe. Deixei minha alma em Alepo. Aos sírios,
Alegria, o crepúsculo nos teus olhos.
Liberdade, uma águia, cão que me procura.
Poemas de amor, dias de outono, noites em que suspiro; és estrangeiro em todos os meus sonhos.
Roman, o nome dele. Amo todas as suas narrativas.
Doce a canção? Dá pra desconfiar.
Livro-me das palavras, uma a uma, vou nua.
Casca de fruta, vermelho nas minhas mãos, lábios ao avesso, a maçã.
Equilibrar-se sobre a lâmina da espada, vias rubras do amor.
Aquele rio não se abria aos peixes. Meu coração não se abria a você.
Sabiás, pássaros no exílio.
Praia Vermelha. A esquerda, o Pão de Açúcar. Ou será o Monte Parnaso?
Meu coração deleita-se. Deito. Amores, como pilar teu peito.
Amoroso devaneio. Vens encontrar-me a cavalo? O tempo é de automóveis, mas respiremos o ar puro.
Meus passos não dão eco. Segue-me pelo perfume...
Estrelas controversas ou planetas que giram ao meu redor?
Encanto, afagos, poucas perguntas.
Espadas de ouro não asseguram vitória.
A beira-mar, às vezes uma brisa, mas, quase sempre, o sol.
Depois que partires, o vento, apenas, irá no teu rastro.
Pátina do tempo. Meu reflexo? Defeito na lâmina do espelho.
Nua, como no céu, onde tudo é transparente...
Água, comida, carinhos... De que mesmo nos alimentamos?
Minha terra tem palmeiras, folhas altas, sombras estreitas, reverência ao sol.
Açoite, dizes do meu olhar, quando tens o desprezo meu.
Minha pele rubra ao toque teu, morango no chantilly.
Hora do retorno. Calmos os dias.
Pontas de durex. Eu grudenta na borda da página.