quinta-feira, 31 de maio de 2012

Não me olhes através do espelho. Na verdade, enxergas a ti mesma.
Poema, fala-se a um auditório vazio. Apenas uma senhora (e surda!), na última fila.
Poesia de papel, incêndio a me levar o poema e as cinzas. Poesia no computador, tantos os vírus... Pior, poeira em Sirius...
O mundo prático, papelaria, lápis, canetas, teclado de computador; onde o poema?
Fugaz a poesia, uma lista de compras, não consta, na última linha ainda mantimentos...
Uma rainha nunca é um rei. O máximo que pode pedir é um pouco de paciência.
Espelho, riscas no rosto, rei posto.
Ainda a morte, a tarde que se vai, um rol... Sempre achamos que muito resta a fazer quando, talvez, o melhor ficou atrás.
Escrever a tarde inteira, o fio, o tecido, senhora a tricotar, tantos os poemas, cachecol...
O poeta e o escritório: Trabalho e clientes, lembranças da vida comercial.
Desliza a tarde, sem alarde, na sombra que escorrega no piso da sala. Sobe a parede, chega ao parapeito, à janela e atira-se suicida.
Escorre-me o sangue pela extremidade de um dedo, escapa-me a lembrança de tua face no albor dos dias...
O poeta não é um campeão. O que ele pode comemorar, senão a brevidade dos dias?
Perde-se tanto, muitas as derrotas. Não se cobre o sol com a peneira dos dias.
Tantas vezes morremos. Pouco a pouco, na brevidade dos minutos que nos escapam.
A borboleta cintila suas asas de sol. Efêmera a borboleta, efêmeras suas asas. Por isso, a beleza.

sábado, 26 de maio de 2012

Largo o espaço da poesia, mas obscuro, túnel no tempo, buraco negro, onde a incerteza do silêncio ecoa.
Uma estante de livros, tantas as histórias, alguns poemas, um mundo invisível. Como descobri-lo?
Quando não há poemas? O silêncio. Ou poucas as palavras. A rua, a árvore da esquina, o sol.

domingo, 20 de maio de 2012

Frágil a vida, equilíbrio precário sobre fio de arame, como as palavras, como a poesia.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A poesia chega séria, olha o mar, quer ajudar, rima amar. Mas sai seca, ossos na mandíbula de cães.
Controle de diabetes: És tão doce. Não posso te namorar.
Desloca-se o objeto, bananas no quarto de dormir. Talvez assim você tenha a poesia. Ou será o desastre?
Atividade do dia: supermercado. Gôndolas, mas não estou em Veneza.
Leitores do meu blog, na Rússia e na Alemanha fala-se português. Tantas as visitas. Enquanto em meu país, saio pela porta dos fundos...
Política: escondo-me atrás de três moças, que disputam um namorado.
De uma charge de Chico: Verdades, são tantas, mas sempre no calabouço.
Poça, sol ao avesso, poesia.
Espelho de sol na poça. Fim da chuva, inicio do dia.

sábado, 12 de maio de 2012

A menina acorda, vai até sua mãe. Ela ainda dorme. A infância é amiga das manhãs.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A mulher vai nua. Não há o amanhecer. Na verdade não há o tempo. O gozo é único e eterno.
Alguém já olhou a cidade pelo rés-do-chão? Ela é tão horizontal...
São tantas as pernas nesta cidade, pernas coloridas, pernas em negro, pernas nuas, pernas sérias (de gravata?) Acho que vão ao Fórum.
Na esquina, o sinal luminoso demora a abrir. As pessoas estão juntas esperando pela luz verde... as pessoas estão sempre juntas.
Não me perguntes por que escrevo tão pouco. Antes o poema surgia do espanto. Hoje não há com que se espantar.
A empregada segura sua vassoura e varre a entrada do edifício, varre um pedaço de jornal onde um poeta deixou para a posteridade seu poema.
Escadas, levam aonde? Meu cachorro não precisa de filosofia.

sábado, 5 de maio de 2012

Tão bonito um lápis, elegante, todas as possibilidades na ponta fina do grafite.
Oh, socorro, uma hemorragia! Poemas se derramam dos meus dedos...
Vou fazer ponta ao lápis, melhorar a letra, ouvir de longe quem beletra e, quem sabe, retornar secreta...
Não tente deter Cronus, ele parece tão inofensivo...
O tempo passa, e vejo meus traços se acentuando, no espelho do quarto de vestir.
Assim como brilha, logo apaga, a poesia fugaz dessas páginas digitais...
Festa dos sentidos, a noite se avizinha, pulsa quente o corpo da cidade, corpo de todos, e que vai quente, à espera do momento de amor.
Tão confusas essas teclas... quase a poesia vai em outra língua, numa em que ninguém poderia decifrar-lhe o sentido.
Trapo, o meu corpo depois de o tateares,,, O amor.
A preguiça me domina, fica o lápis guardado na gaveta. E minha poesia escapa-me, mas vai muda.
Poucas as palavras, espaço exíguo essa rua, quase viela, em que derramo minha língua europeia. E tu, que não precisas de verbos quando amas.
Adoro a cidade e seus artifícios, passar à noite como estrela fugaz por rua em que a névoa friorenta escapa. E tu a mergulhares o meu corpo.
A maresia, meu corpo salgado, e o vento que vem de longe... A quentura das minhas mãos dentro do bolso do casaco.
Ontens e amanhãs, espero-te. Onde o tempo?

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Longínquo o som das vozes alheias. É o mundo que continua a existir. Da janela não vejo quem conversa. Esse vozerio bem daria um belo poema.
Calos nas mãos, esbarro na louça que enfeita a mesinha da sala, Um pratinho cai mas não quebra. Suspiro um poema. Alívio.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Os raros momentos de solidão e de silêncio são, na maioria das vezes, a pura poesia.