quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Onde encontrar o motivo? Numa rosa, numa roda, na árvore da esquina, nas cores dos automóveis, na insuficiência de tuas palavras...
Amas a mim de maneira exacerbada; amas-me insuficiente...
São insuficientes tuas palavras, são insuficientes teus braços, teus dedos, o sonho de tuas carícias.
Usas as palavras para anunciar no muro a tua arte, usas as palavras para anunciar o teu disfarce...
Pálidas as palavras quando me desatas o desejo...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Queres-me vestida apenas de palavras, adornada de metáforas, rodeada de antíteses, nesta casa exígua onde mal me movimento? Sou um paradoxo!
Que susto! acordo ao teu lado, desfeita a magia da noite. Quieta e nua, quero desaparecer sob as cobertas. Onde a silenciosa chave da porta?

sábado, 13 de outubro de 2012

A cidade do futuro, pós-humana. Não mais haverá pernilongos... Mas, e você?
Tuas mãos passeavam-me, abriam janelas indiscretas.
Depois me olharás. Mas apenas com os olhos...
Lembra-te da parede contra a qual me abraçaste numa noite azul-marinho? Lá ainda estão as marcas invisíveis do nosso amor.
A cidade existe fora de mim, mas não sou fora dela.Casas da minha rua, ou de ruas alheias moldam-me o espírito.Homens anônimos constroem-me.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Concreta: a casa, grossas as paredes, duradouro o madeirame, vidros ainda intactos. Onde as pessoas?
Palmeiras. A terra não é tua, não é minha. Exílio: voou o sabiá.
Pós-humano: células implantadas em teu cérebro. Assim sabes mais história, geografia... Talvez até aprendas dizer bom dia.
Carne. A peça dependura no açougue. Tão vermelha como nenhum verso.
A árvore lança o verde que faltava.
Tento a poesia fora de mim, no objeto. Uma pedra, o sal, água do mar. Poesia concreta, esqueça o eu lírico, esqueça a/o poeta.
Cruzaste Gibraltar? Mas nunca saíste de Atenas...
O museu. a mão do pintor no quadro de Monalisa.
Estrangeiro, o viajante, sempre. Construções, tudo construções. Cimento, tinta, madeira, resina. E a montanha.
A montanha é algo concreto diante dos meus olhos, dos teus. Mas antes e depois de nós é uma não-existência. Fundou o mundo o primeiro olhar.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Como ser poeta? Não sei... não sei. Leia todos os livros; depois, o filho. E que não seja prematuro.
Sempre às quintas, tento novos poemas, sempre às quintas, te namoro, num hotel de Moema.
Fazer arte com palavras... Tanto que não me digas impropérios. Palavras, perfídias, significados outros,adultérios. Serei pintor de paredes.
Os russos, sempre os russos; a música, a literatura... Pela arte mede-se a estatura.
Contraltos,luzes apagadas, minha voz, mas me olhas os saltos.