quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Poema
Difícil catar as pedras
sem ferir os dedos.
Imagens deslocadas... A lâmpada escurece-me a tua face.
Havia um espelhinho na gaveta da cômoda. Ele refletia todas as imagens do mundo.
O lápis nada sabe de minha poesia. Sei eu do lápis? Sua ponta afiada, de grafite...
Nada sei também de poesia.
Tantas as coisas domésticas. Olhos, apenas, a apreciá-las.
O prato sobre a mesa. Ainda vazio. Espelho de porcelana, fome de exibir as mãos.
Cálice. O que celebro? Canto a árvore que me dá a sombra.
Canto, imagem deslocada de tua face, estrelas cintilam também sob as nuvens.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Transparência

A poesia é transparente,
não há foto que a leve a sério,
seu contorno é como a face oculta da Terra.

Vale a imaginação,
ou o traço incerto da luz,
uma invasão ligeira,
logo mergulhando o mundo
de novo na escuridão.

A poesia é transparente,
não demora
a perder-se
na treva rubra das dez horas.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Misturo maiúsculas a minúsculas...
Como os dedos nas mãos.
Diferença quando procuras o semi-tom.
Palavras que me atiras,
mão com que me afagas?,
perverso ao sol de inverno,
teu rosto,
queres-me orvalhada...
Pois não é que tremo?

domingo, 3 de agosto de 2014

Sou patrícia romana distante de ti. Mas roubo-te a beatitude. Sou patrícia romana, Muitos os césares, poucos os amores.
De balas traspassada, duas de lado a lado; não trago a cigarreira, já vai distante minha imagem de cinema, levas-me a identidade, e o poema.
Recitavas um poema de Pessoa, e eu a dizer que não me prendia a nada, apenas o fio tênue de água do regato, que nos perpetuaria os lábios...
Lembra-te da pequena cascata? Namorávamos na noite que escorria pelas rochas, águas que formariam rios. E eu sem o vestido!
Vinho e olvido... Umedecemos nossos lábios rubros.
Prazer, mas devagar, que não termine o entardecer de domingo...

O tempo não linear. O amor saltitando junto a rosas; a face taciturna ante uma recusa; a aurora orvalhada umedecendo-me a barra do vestido.