Poeira, cortina revelada pela luz do sol, poesia envergonhada, mulher nua a poder cobrir-se apenas com as mãos.
Calça-me, meus pés em tapete de relva, cosquinhas, pontas de ardor, espero subir sobre teu corpo, sobre teu calor, levitar, céu sem nuvens.
A cidade cobre-me, um véu, meu o calor...
Cheira a cor, apalpa o invisível, Choca-te o experimento? Palavras suam em dias de inverno...
Sente o cheiro, experimenta o chocolate, examina a cor, apalpa a textura. Invisível a poesia?
Cada palavra tem sangue próprio. Cada poema é um corpo, com perfeita individualidade.
Poeta, canta tua incapacidade, aí terás o que chamam de poesia.
Oh, literatura, palavras mal ajambradas em sintaxes à revelia... Oh, literatura, o dicionários apenas, sem fratura.
Podes tirar o sentido de cada palavra, também podes esquecer-te do calor do meu corpo. Não és capaz, porém, de esquecer que um dia te amei.
Esquece a moda literária, guarda em teu caderno algumas palavras, Inebria-te com elas. Não podes evitar o álcool que goteja de cada sílaba.
Queres a mim? Toma um pouco de minhas palavras, tenta o pouco de sumo capaz de saciar tua sede.
Cobre-me, com um dedo de teu calor...
Sopra-me a pele com o calor dos teus pulmões, ainda que teu ar seja breve e se perca entre amantes e náufragos, nesse porto dos desejos.
Publicas o amor, mas com ele a dor; publicas o calor, com ele suor; publicas o ardor, mas não encontras a flor.
Escalas montanha noturna, teus dedos te sustentam, frágeis artelhos. Escalas meu corpo, noite soturna, me despes, tão frio, a bruma.
Teu rosto, nada de sol, nascente ou posto. Teu rosto aponta direções. Quem sabe, desgosto...
Fugiram-me as palavras? Devaneios, narrativas. Escamoteio.