quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Doei-me. Mas só as partes onde sinto cócegas.
Amor: Moramos em casas separadas.Moramos um dentro do outro.
Tanta gente esperando e eu aqui cochilando. Um bocejo, rumorejo. Não vou dizer que entre palavras me vejo. Prefiro te mandar um beijo...
Tantas as cores, será que consigo perceber todas as nuances? Tantas as faces, mas consigo distinguir você.
Diferença: um corte a mais de tecido, a estampa de uma flor, o beijo inesperado, tuas mãos e o anel, o retorno de Ulisses.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O anel que tu me destes era vidro e se quebrou... Traze-me um de ouro, ouviste. Um de ouro, pois sou muito valiosa!
Daqui posso ver todo o vale. Um vale de edifícios. Perco-me a te imaginar nos corredores-salas-quartos. Perco-me no teu labirinto.
Procuro tua sombra, já que não te posso ter. Procuro tua sombra. Sinto calafrios ao me cobrires o sol...
Cantai, mas um canto glorioso; nenhum lamento; cantai, enquanto vos trato por vós. Vede, nossos corpos separados. Transbordam-nos os sonhos.
Para cá, para lá, para cá, para lá... Adormeço ou aproxima-se o meu momento de explosão?

Estatutário: jamais serás demitido; terás, enquanto viver, teu corpo sobre o meu.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Colorida? A explosão...
Poema: atiro-me do trapézio, não ha rede, ninguém para segurar meus pulsos.
Portas que me levam a lugar nenhum, janelas voltadas para o abismo, fio de arame, o mundo respira sob os meus pés.
Esquecer nomes, esquecer quem sou, esquecer quem és. Ninguém a saber que existimos. Apenas um traço no caminho, o rastro de uma sombra.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

sábado, 12 de janeiro de 2013

Como nomear os bois? São tantos. Não haverá nome para todos.
O velho lobo não tem pele de cordeiro. Ele não precisa de disfarce. Seus dentes, apenas eles...
O farol aponta a pedra na rota do navio. Mas o poeta escolhe a colisão.
O papel tem frente e verso. Ambos muito brancos. Despeço-me do meu poema.
A poltrona da sala de estar suporta-me. Eu leio um livro. Trapézios na janela do vizinho.
Não me queiras poeta de adivinhações. O poema precisa falar do óbvio. Já estamos fartos de poetas iluminados.
Não me coloques no teu livro andando só, pelo deserto, apenas as estrelas. Oh, o deserto está por todo lado. Cometerás um pleonasmo vicioso.
Ah, a solidão... Sempre se está sozinho. Mesmo cheia a plateia, apesar da fila lá fora.
Exceção: não vivas Ulisses. Jamais voltarás a Ítaca.
Ajuda: Estás infeliz? Escolha um personagem e saia por aí na pele dele. É tão bom. Rápido te acostumas. E conhecerás mil mundos diversos...
Não me digas que a poesia está fora do tempo. Nada está fora do tempo. Não entenderíamos as palavras nem o efeito dos sons, fora do tempo.
Espelhos, sou eu mesma? Apenas o meu reflexo, minha poesia em língua estrangeira.
Equivalências; de sons e sentidos? A tradução perfeita. Hamlet, o príncipe da Dinamarca.
Traduções, outra Ilíada, outra a Odisseia. Mas, as únicas que tenho.
Manto que me cobre, meu poema em outra língua esconde-me as pernas.
Onde estão os poetas? Já sei. Estão estudando a meteorologia...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Queres uma frase para dizer ao namorado? Dou-te uma crase. Assim, atiro-te no estrado!
Esquece as palavras, deixa meus dedos percorrerem a tua pele...
ão difícil encontrar correspondência. Na maioria das vezes, somos todos estrangeiros.
Sempre há a necessidade da plateia, mesmo que a neguem. Escrever para si mesmo é trancar-se num calabouço.
Cometário ao pé de página: o livro correu de mim.
Está na moda dizer que a poesia está no silêncio. No silêncio não há poesia alguma. O silêncio pertence aos cemitérios.
Algumas palavras nos fazem perder a cabeça: guilhotina.
Alguém diz que palavras clareiam a estrada. Mas há palavras que fazem o mundo permanecer na mais absoluta sombra.
As palavras são políticas, facilitam a convivência entre os homens (e entre as mulheres!). As palavras são usadas nas declarações de guerra.
Palavras são pontes, na maioria das vezes partidas...
O ano novo veio e tu não vieste. O ano novo veio, tu não voltaste. O ano novo ficou velho. Ah, bobagem, sempre quis acreditar no ano novo...
Disseste-me que palavras têm cor. Palavras escarlates saltam-me da boca, chocam-se com teus lábios. Tu me engoles. Ah, a ponta de meu batom!
Revoada de águias... Onde encontrar águias? Onde a poesia?
Tudo o que se pode nomear é concreto, mesmo que o nome seja apenas uma tênue névoa.
Não há palavras abstratas. Todas dispõem da mais absoluta concretude. Não se pode naufragar no fundo mar chamando os abismos de insondáveis.
Pane, banquinho azul e toalha vermelha.
De dentro de uma caixinha de fósforos sai uma quenturinha... será o meu ardor por você, ou sou sem-vergonha mesmo?