Transcedência, meu vestido; apenas fibras de algodão?
O mágico,Suas mãos hábeisEnvolvem-me na doce ilusão.O que rouba-me, o que a me oferecer?Apenas a doce ilusão.Quero um mágico ácido.
Geometrias,Nossos passosSobre o amor.Tudo tão esquadrinho...Faltou erva daninha!
Queres um interlocutor,Mudo,Nunca surdo.
Difícil o poema,Gema que escorre frágil,Quebrada a casca do ovo.
Revelo-me recortada,Pronta para a montagem,Por que me queres inteira?Aos pedaços podes chegarAo âmago.Como o de uma mulher?
Um cantinho de autoajuda,Um mundo de automáticos.E minhas mãos a ruir,Sobre corpos de cristal.
Faltas a mim,Falto-te,Faltamo-nos.A palavra,Apenas.
Sapatos, novela noturna partida,Convite a veios febris,Rastros que não se apagam,Solitude vilA pele ardida.Falta-me a alma.
Cristaleira,Frágil meu vinho.Beija-me.Mais frágil o vinhoNos teus lábios.
Uma rota de catamarãs.Tantas as espumas...Perco-te,Não ficam meus passosSobre o mar.
Porta da varanda,Não penetram teus olhos.Há outras portas,Mas negam o sol.
Não põe força.O poema,Patins sobre neve lisa.Também cuida,Há perigoNa reta glata.
Assistes a uma peça,Rendas da atriz,Mar batendoNos olhos teus.
A vista nua,Mulher na praia às cinco da manhã,Fica apenas com a imagem, querido,Melhor assim,Serei teu pão todos os dias.
Mares, espumas, barcos ancorados.Eu, tão pequena,E o enorme e fràgil vestido,Rendas frias.
Este fruto,Proibido?Esse fruto?Masculino?Permitido.
Brasido, ainda o sol a escorrer minha pele, crepúsculo tingido, falácia parnasiana.
Passeio Público, sou pública? Entre árvores e aleias. Púbica.
A vertigem; nada a ver com a altitude; já não busco sentido.
Penhas, sinal de penitência? Pedras de onde avisto teu mundo.
Como explicar a poesia, a literatura? A vida não tem explicação.
A poesia enter tantas falas, ruídos, imagens de guerra... As palavras, tão frágeis.
Quero todos os dias, mas me é impossível todas as palavras; então o sol, e à noite a lua. Dedos teus a me percorrerem o torso...
Talheres dissolvem-se no espelho da sala. Uma nesga de sol chega aos meus pés, sou lâmina afiada no mármore da janela.
O leite, tão branco, polonesa nua; a manteiga, derreto-me dentro do pão.
A mesa do café, seis as pernas, contadas as minhas, nuas como as da mesa, líquidas como o café.
Histórias, lembranças que dão prazer. Deslizas teus dedos sobre meu cetim... Mas vou fora, o cetim no meu lugar, na cama; eu, poltrona nua.
Roupas sobre a poltrona, o vizinho de frente a me descobrir, onde o biquíni? O sol espera-me tenso. Tenso o vizinho da janela de frente.
Envergonho-me. Cobres meus seios e cobrirás minha descendência.
Eu caía? A altura, imensa? Mulheres não despencam depois do gozo.
Perigoso dormir a teu lado, sempre roubas meus sonhos.
Fiquei de pé, e o teu olhar foi tão devastador. Era o começo da tempestade.
Buenos Aires, uma casa em Palermo. Salões diplomáticos escondem meu vestido de festa.
Enlouquecendo. Tantos sentidos, a loucura. Enlouquecendo. Meus dedos nervosos percorrem tuas teclas.
Segues meus passos? Minha pena, minhas pernas...
Frágil, minha imagem no teus olhos. Um passo teu e o abismo...
Calaram-se as penas, esperam-me todas as folhas. Ainda há orvalho. As folhas são de papel, faço um vestido com elas, frágil, como a poesia.
Existo também em teu corpo... Não pensas em mim?
Deitada, flutuam todos os panos, todos os planos? Como esconder-me?A filtrar-me, o sol? Sou a foto com que sonhas. Queres a mim poeta nua.
Espelho, teus olhos, extensão do meu prazer.
Episódios, o que vivemos? ah, tuas mãos estrangeiras.
Extensão da orla, distância do meu amor.