sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Embriaguez: malte, teu hálito de amor...
Palco: meu caderno digital.
Mirante: salto sob meus pés.
Palavras, corpos duros, imperecíveis...
Vou em busca da palavra necessária, justa, nua, que não possui sinônimos, a palavra única. Meu corpo, tambérm único em teus braços a pulsar.
Peco-me, sou a junção de todo o caos, quem sabe caminhos tortos, um Laos, tenho a pele apenas e por enquanto, braços e pernas, dois de paus.
Soneto
Amor
Ardor
Palor
olor
caos
paus
FAL
Laos
pranto
canto
santo
céu
mel
solidéu
Oh, os verbos no imperativo, quanto mais ordeno, mais peco. E o negativo? Vai, não te mudes na segunda pessoa. Eu, muda? Melhor, nua!
Quero a frase perfeita. Mas sei que ela não existe. Talvez para os melhores poetas, talvez para os filósofos afortunados. A frase lassa, eu.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Lógico que sabemos voar... Todos, todos sabemos voar. Mas é tão prazeroso ter os pés do chão, e sentir o arrepio do teu corpo.
Sempre me procuras; não tenho o que te dizer, apenas que um dia te amei. Hoje o tempo é outro, o mundo é outro, e o corpo, o único amante.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Cidadania nenhuma. Se bobeares não tens nem mesmo a cidade.
Não falo por enigmas. Nem precisas decifrar a esfinge. Olha o meu corpo. Será que nele há metafísica? Ó Esteves, o Esteves sem metafísica.
Desatar... Uma laço, um cordão. Desatar a rir. Ai, não me deixes nua!
Salgados. Não os alimentos, mas os caminhos. Começando pelo mar...
Incrédula. Os olhos não são tão confiáveis. O sol nasce realmente ao leste?
Não serei acusada de inveja... Quero apenas um pedaço de você,
Uma visita de bom grado. Sorrisos, um café, fala-se baixo sobre um parente distante. Todos rimos, Serei a próxima vítima?

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Feridas a arder, e o sol tão quente. O corpo, eterna ferida sempre quando te vais...
Estás sempre a correr... Quem te ensinou? Sei que é preciso correr. Uma espécie de lei da relatividade. Chegas na frente, maior o teu tempo.
Salvo todas as lembranças. Todas? Tantas quantas forem minhas palavras...
A quem pertencem as nossas palavras? Palavras não têm dono, mas toda língua é sempre estrangeira.
Inúmeros são os caminhos, mas não há por onde te perderes. Leva o alimento, e o agasalho se a noite é longa.
Quando as férias chegam, procuras sempre o sol; estendes-te sobre a terra, e a terra é tua mulher.
Alimento a tua manhã, leite quente em terra de exílio.

sábado, 23 de novembro de 2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Mudamos de lugar, sempre mudamos de lugar. A poltrona da sala não lê a mesma página do livro.
O presente são teus músculos plenos de vitalidade. Apenas isso. Mas para muitos é o que basta.
Oh, presente...O presente nos aguilhoa, sufoca. Dá-me um traço do passado. Só um traço. O presente é a parede a 50 cm. Já o passado é o ar.
Apaga a luz. Você tem olhos, mas agora não precisa deles. Tens a imaginação...
Tudo é tradução. Qual frase reflete a pura realidade? A realidade é uma construção; e a frase, outra.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Crispar, o que significa mesmo? Ninguém mais usa a palavra. Crispada, contraída. Talvez me doa a tua ausência.
Gatos... Não sei falar sobre animais. Gatos... , exigem tato e muita concentração.
Bebemos? Melhor bebermos uns aos outros...
Oh, mirar... Mirar ou admirar? Tanto faz, os dois exigem pontaria e muita atenção. Um ligeiro tremor e tudo estará perdido.
Latino-americanos, todos nós, apaixonadíssimos. Amamos tanto, como um pré-colombiano perdido nas ruínas da memória...
Mantém-te sempre alerta, posso estar à tua espreita. Mantém-te, quero-te, ah, deleita...
Tenho o costume de rir de ti, um sorriso franco; tenho o costume de me agarrar a ti, um abraço e tanto!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Sou uma escritora difícil. Mas te faço uma concessão. Toma de minha mão. Um presente: a pedra.
Miraste-me, mirei-te, mas nossas setas não atingiram o alvo.
Perseguição? Ata-me a ti. Não me deixas sair atrás...
Gostas de aventuras? Vês aquela pedra? Saltarei de lá. Fica tu de cá. Depois volta, quem sabe, temos ainda algo pra conversar?
És policial? Então hás de prender-me. Não ando de negro nem cubro a face lívida. Também não arremessei nenhuma pedra. Apenas vou nua...
Minhas notas vão desgarradas, escrevo sobressaltos. Salta o meu coração, salto eu, todos os braços são estrangeiros.
A cidade está sitiada. Como vencer barreiras e saltar em teus braços? A cidade está sitiada. És o autor do sítio? Trazes as armas, sempre.
Dormi as últimas noites sozinha, já não sei onde estás. Dormiste as últimas noites comigo; sei que sempre me tens no teu abraço.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Meu filho desenhou um pássaro transparente, tão bonito, quando alça voo impossível vê-lo, mas é certo que vai lá no alto, no meio do céu.
Vamos namorar? Tão confortável é o corpo. Tudo encaixa, a medida é certa. Não olhes meus olhos, nem sintas meu coração. Apenas a seta.
Esquece-me se queres a fuga. Já não há desvio, e impossível tornou-se a volta. Oh, esquece-me, e pede uma taça do bom vinho...
Eis-nos todos à beira do grande templo. Há ouro, bolsas da Vitor Hugo e promessas de felicidade.Afinal, não sou de ferro, e a morte é certa.
Não me peças poema de amor. Sou azeda. Já chupaste o limão? Tem coragem, sê estoico, caso venhas me namorar.
Antes eu queria tanto te amar, mas depois descobri que te amaria na mesma medida em que amei tantos outros, O amor é vil, só muda de nome.
Se eu te amo, ou tu amas a mim, repara, o amor nunca cabe. Tão pequeno são os corações.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Fantasmas a me arrepiar... Às vezes me dizes que a fantasma sou eu. Vês a mim, sempre no teu encalço.
Todo coração é uma bomba que dificilmente explode. Mas pouco a pouco nos mata, sobretudo quando descubro teu rastro na calçada da minha rua.
Perdes a cabeça por causa da beleza? Somos todos, na maioria das vezes, uma legião de decapitados.
Sou tão inábil! Como guiar de modo a não derrapar no caminho do primeiro beijo?
Primeiro passo... Sempre dou o primeiro passo, mas muitas vezes esqueço que adiante está o abismo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A existência é uma carapaça a nos impor limites. Mas creio que ao atravessá-la terei problemas...
Procuro a palavra impossível, pois quero atravessar significados. Enfim, preciso de uma nova língua. Mas creio que terei os mesmo problemas.
Há livros que eu gostar de tê-los escrito. São os que mostram que morri, ou que me matei, várias vezes. Eles me asseguram que só tive uma vida.
Gostar de você, às vezes doce de leite, às vezes sorvete que me arde as narinas, que me queima o céu da boca.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Escolhe uma palavra. Isso, uma palavra propriamente dita. Uma palavra propriamente escrita em algum livro. Escreve-a. Só. Eis o teu poema.
Perpetrar? Conjuga-se na primeira pessoa? Ah, sim, para alguns filósofos a primeira pessoa não existe.
Ela não comia? Ou comia? Não sei. Só sei que tinha um corpinho... Já sentiste inveja alguma vez?
Outro dia eu quis aprender chinês. Mas logo descobri que toda língua, sobretudo quando se começa a aprendê-la, é chinês.
Light, sobretudo os barbarismos universais... Sobretudo meu sanduíche. Por falar em sanduíche light, deixa solto o meu corpo.
Não? Ou seria sim? Tão curta a corda...
Palavras tuas, palavras nuas, perdeste a metáfora? Tua língua não é apenas tua.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Drummondiana 7: Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Margarida! Ah, a vida...
Drummondiana 6: O homem atrás do bigode é serio, simples e forte. Quase não conversa. Tem raros amigos. O homem atrás do bigode é sexo!
Drummondiana 5: Mundo mundo vasto mundo, a rima? Raimundo. Mundo mundo vasto mundo. Solução? Melhor apenas o coração.
Drummondiana 4: Meu Deus,por que me abandonaste se sabias q eu não era Deus,se sabias que eu era fraca,se sabias que eu encantava serpentes.
O ônibus passa cheio de pernas:pernas brancas pretas amarelas.Para que tanta perna pergunta teu coração.Porém meus olhos não perguntam nada.
Drummondiana 2: nós, mulheres, distância aos conhaques... Mas como gostamos da embriaguez!
Drummondiana: sete faces têm o meu poema, sete vezes sete quarenta e nove. Dou Deus em dobro. E o diabo na espera.

sábado, 21 de setembro de 2013

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Ouves Homero? Quem mais hás de ouvir? Toda voz é nau sem leme no Egeu.
Meu corpo é a minha memória. As mãos que o percorreram são rios que em desespero procuram o mar...
Os números ímpares são mais fortes, sozinhos sempre, nunca formam par. Números ímpares, como dos homens os corações... Tão díspares.
Ainda escutas a poesia? Curto circuito! Teus olhos tão sãos. Insistes a ti na minha direção...
Morrer não é difícil, tão frágil a vida. Palpita teu coração, palpita na minha direção...
As veias, todas azuis, minha pele transparente. Vês o meu cabelo? Esconde-te na noite escura.
Oh, o cuco do relógio! Tantos os pássaros livres. Que se desvie do meu corpo tua voraz seta.
Não sou a fuga, nem a caçadora. Uma imagem de Buda, lampejos, ilumina-se a noite, sonhadora...
Imagens febris do dia que se encerra, meu corpo quente, tu me esperas no teu copo, bares de sexta-feira.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Quantas Ilíadas para contares minha história? Junta tua tropa, há tantas Troias... Em qual delas me escondo?
Vermelho, tua cor, a mancha sobre meu rosto... Vermelho, um deus olímpico a raptar-me lívida em seu carro de fogo.
Poesia que amanhece, Apolo no carro de fogo queimando o que me resta de coberta.
Cansa-te o calor da hora? Deixa transpirar o teu corpo. Teu homem não tardará a beber-te, rubro teu líquido.
À pele branca, aproxima-se o amante rubro; pouco a pouco rouba-nos a roupa e, caso desprevenidas, nos marca a brancura com seu fogo brando.
Sol, poesia a me tocar a pele, a arrepiar quem ama de verdade.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Oficina 6: Na crônica te agarra só a um ponto; não deixes passar o tempo. Cronus era deus para os antigos gregos.
Oficina 5; Na prosa, sê elegante. Mulher, pouca roupa mas o caimento sutil.
Oficina 4: no  poema, evita choques, explosões; contorna a pedra, como o fluido rio...
Oficina 3: não há mal algum se repetes vez ou outra o som que te soa música, violoncelo...
Oficina 2: Se tens uma ideia, dá apenas a sugestão, traços leves e a luz.
Oficina: escolhe uma palavra, não precisa o torno, não à lima, apenas as letras claras, ensolaradas....

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Os menores lápis que eu tinha tu mo levaste. Queria pintar a ponta dos teus dedos a desenhar raios de sol sobre a minha pele nua... tua.
Contrabandear o meu amor, falaste-me juntinho ao ouvido. Contrabandear o meu carinho. Oh, tuas mãos tão frias, procuras o que não tens...
Hipóteses, tua luz sobre o meu corpo, farol na preamar... Mas preferiste que me descobrisse o sol.
Círculos de fumaça de cigarro, um livro, deitávamos ao ralo sol de primavera. Ah, esses existencialistas...
Ah, sim, lembro-me bem, a garota esquimó. Queria tanto estar na pele dela. Cobririas a mim? A garota esquimó tem como se safar sozinha...
Descubro que estás a me trair? Descubro o número de tuas admiradoras? Não, nada disso. Descubro-me. Em pele...
Me levas ao arvoredo. Tão largos os troncos. Posso me esconder atrás de um. Me encontras? Lembra-te, há diferenças, as árvores se vestem.
Botinas... Já pensaste em usar botinas? Vou dentro de um par, assim, só as botinas, como sempre me pediste...
Perguntas a mim: você quer ir para casa. Respondo-te: para a tua.
Tatuagem, dragão, guardas-te, de quem?
Libélulas, mas leves que o ar. Sopro-me, voejo-te, sonhas com a origem do amor...
Óculos espelhados,.. Vejo-me no reflexo do teu amor.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Em viagem, dirigir um automóvel entre as árvores, descer a montanha. Quem sabe a poesia seja uma manhã assim, o sol, o céu azul?
Neste inverno do Sul, esconde tuas mãos, guarda-te no meu casaco marrom.
Gramado, o frio, minhas mãos quentes... Sentes?

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Leva minha seda rosa, meu casaco marrom. E me deixa azulada antes do amanhecer.
Querias a minha caneta. Querias minhas palavras. Mas como dói tornar ideias algo material. Mais nobre, mais erótico é apenas o desejo.
A ponta dos teus dedos são frias. Deslizas na flor úmida, ainda antes do sol.
É proibido passear. Meu corpo são todas as vias. Olha-o primeiro. Não escolhas a contramão.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Destes uma sacudidela em meu interior. Todos os meus órgãos te respondem. Mas não tens meus pensamentos.
Estou vencida. Levaste minha pele, queres minha alma.
Rua inacessível a minha. Nunca me encontras. Talvez temas o beco sem saída do amor, talvez por isso tão longes de mim sempre estás...
Amores revelados... Vela meu sono, ele é passageiro. Depois, pega na minha mão, segura meus braços, experimenta meu calor.

domingo, 14 de julho de 2013

Espelhos multiplicam a minha imagem, espelho multiplicam o teu retrato. Espelhos vãos, sempre a solidão.
Amigos, lembrados em hora tardia, amigos, talvez razão da vida, amigos, vida dividida.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Derruba-me, encharca-me. Mas no final não esqueças de me trazer a toalha!
Fibras, sempre fibras, eu, você, nossos músculos. Fibras, sempre fibras, o coração e outros órgãos tão importantes quanto.
Festejas sempre, aniversários de nascimento e outras datas. Festejas sempre... Festas à minha ausência.
Caminhos mal-iluminados, apenas as estrelas, pirilampos em trilhas incompletas. Chegarás à minha pele?
Portas escancaradas... aberta à minha entrada. Mas sei que não poderás trancá-las. Já não possuis a chave.
Contas a mim histórias de amor. Oh, onde meu rei e seus cavaleiros? Parte-me. Onde excalibur?
Cicatrizes despertam lembranças, cicatrizes são memórias vivas. Quais as cicatrizes do amor? O amor não deixa cicatrizes...

Propriedade

Sou dona de me próprio corpo, de minhas mãos, das possíveis carícias que serão capazes de produzir. Apenas.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Nascente

Fui até a nascente do rio, mas não era ali que ele começava...

Duas vezes

Sonhei duas vezes com você. Numa, amavas-me; noutra me querias distante. Fiquei com a distância, assim sabia-me mágica.

Nascer

O que é nascer? Nasce-se verdadeiramente quando se entende que a vida é impossível.

Águas

Águas circulares: o rio que me deixou nua não pode me vestir com as mesmas roupas!

A ética

Spinosa descobriu que Deus é a natureza. Sendo ela inclemente tanto aos bons como aos maus, já não se tinha a quem temer. Então, a ética.

Habituado

Sê habituado com o mundo. Sempre há de te faltar uma peça. Convive sem ela, e faze da falta teu objeto de amor...

Único

Foste o único que amaste duas vezes a mesma mulher? Sabes do rio que passa ali adiante? Ele me ama tanto, que suas águas passam sempre duas.

Os nomes

Os nomes... Por que temê-los tanto. Os nomes enganam, não o meu corpo, o corpo de uma mulher.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nas margens do teu rio, mergulhei. Pediste-me nua, nas tuas mãos meu destino deixei. Nas margens dos rios, mesmo no teu, impossível o lugar.
No verão perdi-me de você; no verão geralmente perdemos as melhores coisas; no inverno, tua pele a roçar-me o frio, memória que lava a alma.
Nada de comparações genias com a natureza, árvores frondosas, auroras avermelhadas. Mas minha pele, ainda que baça; meu corpo, mesmo agudo.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Arrisco-me do sétimo andar. Como posso descrever sensação tão breve, talvez o orgasmo único, enquanto flutuo? Os segundos são migalhas.
Meu corpo navega as madrugadas.
Esqueceste-me, não tocas nas letras que aparecem sobre a tela? Lembras tua promessa? Cada letra do meu nome, minha pele alva ao alcance teu.
Meu coração é de vidro. Toca-o com cuidado. Não deixa que se quebre. Só tenho um. Posso te amar apenas uma vez.
Por que tanto a deslocar-me. Não preciso de pontos cardeais. Desnorteia-me a ponta do teus dedos, de todos os teus dedos...
Máquinas do mundo, máquinas de pele e osso, a triturar-me, como a moenda à cana, a levar-me o sumo, alimentar-se do meu sangue, do meu amor.
Oh, o irremediável. Como amar o miserável que só goza com o chicote à mão, não promete futuro algum, apenas o breve estalo de namorar a dor?
Debruço-me sobre teu poema, atravesso o limite da porta de entrada, invado-te a alma.
Respinga minha pele com o orvalho do teu amor. Jorra tua chuva sobre o meu corpo e nela espelha explosões de outros céus.
Oh, Casablanca, as mulheres de rostos cobertos. Oh, Casablanca, apenas eu, o rosto nu, a atravessar teus braços, a atravessar-te o corpo.
Pensas tantas vezes na morte... Mas quantas vezes se morre no momento máximo do amor?
Sozinha, num lugar deserto, mas teus olhos, sempre teus olhos, a espreitar-me a desejar minha nudez.

domingo, 23 de junho de 2013

Os troianos, sempre a simpatia pelos derrotados, por suas naus incendiadas, Coração que arde no dia artificial de uma cidade planejada.

sábado, 22 de junho de 2013

Comprimindo os lábios sopro-te um beijo; comprimindo os lábios sopro-te enlevo; comprimindo-me morro, teu nome, um grito, aço incandescente.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Escrita de água, escoa pelo ralo, evapora aos céus. Mas volta com a chuva.
Olha o Oriente, é de lá que vem a luz. Mas sou do outro lado, venho da noite, do Ocidente. Sou fada, ou quem sabe feiticeira, a te encantar.
Tornar-me invisível, poder entrar em qualquer lugar e saber todos os segredos. Mas sei que me descobririas, teu jato de tinta a me revelar..
Dos cimos da palmeira observar a terra; dos cimos, descer a vista e descobrir que além disso nada mais existe.
Palmeiral, a praia deserta, seios perfumados a sal, sereia de pernas azuladas.
Minha pele não há de se gastar ante tuas hordas estrangeiras. Minha pele, nas mãos tuas, tanto tempo, melhor contar as luas...
Frenética tua lança, sempre a me fustigar. Atlética tua temperança, logo a me acarinhar. Deserta, a tua lembrança, memória a se dispersar.
O ar fresco, febre diante do mar. O ar fresco, leve de se respirar. Arabescos, você a me respingar...
Oh, ser moça, como a borboleta breve. Ser moça e pensar que a vida é leve, que ferve, e que somos todos imortais.
Voa, borboleta, na ar verossímil da manhã. Voa, borboleta breve. Leva a vida, leve, enquanto há cor, enquanto há o dia.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Poetas, poetas, melhor que fosses malabaristas de circo; não lhes cairiam as palavras, não lhes fugiriam as metáforas...
Tão difícil escrever uma carta... Melhor escrever o inferno, de Dante, e condenar-te por me teres traído.
Gatos amarelos a ensaboar-me de sol...
Galochas... Onde mergulhar os pés? Galochas. Passos incertos, escorregadios, chão de amores voláteis.
Poemas que não avançam, que não engatam o primeiro, o segundo verso, poemas que almejavam êxtases, e se perderam silenciosos, inexistentes.

Aquela triste e leda madrugada

Aquela triste e leda madrugada,
em que tiveste à mão a tua mágoa,
aproveitaste à sombra a tua amada,
pelada a amaste e inda a roubaste!.
O que podem meus versos? Apenas incentivar que também cantes, que mostre tua voz embora rude, que sinta teu coração como escudo.
Quiseste sempre o meu favor para exercitares a contra-dor. Ah, ter com quem nos mata, lealdade...
Amor perfeito combina com dias sãos. O sol a nos tostar, ou mesmo a arrepiar.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Fui ao dicionário ver o que são metáforas. Fechei o livro grosso embebida em maior dúvida. Metáfora, passo sob meus pés a me iluminar o sol.
Sentenças durante todo o dia. Sentenças são certezas, alguém que sempre nos avalize. Sentenças, verdades que nos escapam por baixo da porta.
Traduções, sempre traduções, o mundo em palavras fáceis, exemplos em textos de filosofias. Mas a vida é sem explicação... Beijemos o cão.
Achas difícil a poesia? Não é não. Fácil fazer versos. Basta olhar o fio, esse fio que passa sob a janela e vai dar logo ali, no logro,
Entro no táxi, vá pela Lagoa, por favor, quero minha crônica refletida no espelho d'água, molhada no reflexo da carro que vai à frente.
Tomas teu café na padaria da esquina. A manhã ainda fresca. Tomas teu café e esquentas o início do dia. Partes, deixa frio o meu coração.
Ginástica pela manhã. À beira mar? Na academia? Ginástica pela manhã. Torcer sílabas, encontrar palavras, inventar sintaxes.
Tantas as portas numa cidade. Bater em qual delas. Todo vendedor amanhece rico.
Conheces os sapatos que passam? Conheço os pés nus do homem, também nu, que dormiu na minha cama.
Sílabas soltas em Copacabana, ruídos de táxis, ônibus. Minha empregada não veio.

domingo, 2 de junho de 2013

Sono de domingo, torpor que me beira ao meio-dia. Sono de domingo, sol que me surpreende ao zênite, que me deixa ao flerte, me rouba a pele.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O Cristo ao fundo, bastava que olhasses para cima, por trás de meu ombro. E eu via o espelho d'água da Lagoa. Embora plácido, eu naufragava.
Não digas o que houve, apenas que era maio, o mês em que te amei. Não digas o que houve, olha o cão à porta alheio aos dias e ao calendário.
Costura, meus dedos no vazio a tecer o porvir.Quando as fibras na plantação em tempos de eu menina a saber que, um dia, me cobriria a nudez?

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Um cálice filtra e esquarteja a luz num canto de parede, sementes luminosas que germinam meu verso.
De que vale o risco de um lápis sobre o papel se não há luz a remetê-lo aos meus olhos? A poesia nasce com o sol.
Risco de luz, retilíneo, a exibir a curva da maçã sobre a mesa da cozinha; risco de luz, provisório, enquanto dura, mínima, a tarde que cai.
Sofreguidão, subir o pau de sebo, dar-te um beijo, um milhão!
Travar dueto com Drummond? Escalavrar a pele, deitar-se em sangue, soberba exangue, calafrios, rigor de inverno, céticos amores, doce dores.
Dois milhões de habitantes querem tocar minha pele nua. Dois milhões de habitantes não querem saber da solidão (prazerosa), que não é sua.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Espadas refletem fios d'ouro de sol, espadas reluzem o brilho rubro do amor, espadas deixam-me exangue, fio de metal que me descobre mulher.
Desce tua espada, roça-me a pele, queda-me a teus pés. Queres a mim mutilada? Não, sei que não. Queres-me apenas trêmula, úmida, teu o suor.
Sempre temi os porões, sempre temi sua localização abaixo da terra. Mas em teus braços... deixa-me nua, deita-me ainda mais fundo.
Cobre-me os pés com tua meia, acarinha-me sobre o tecido, malha branca, ainda o teu cheiro, o lastro de tua dor.
Incessante morrer... queres o eterno gozo, e morres (talvez de amor) a cada espasmo.
Maternais adorações; o que desejas? O colo quente da mãe ou o ardor no ventre da amante?
Em vão me olhas no reflexo da lâmina do espelho. Em vão me descobres a nudez. Não é o meu corpo, apenas reflexo, completa-o tua imaginação.
Queres-me o tempo inteiro à prosa, todo o tempo à poesia. E o amor?, pergunto lépida, foguenta. O amor?, me respondes. O amor é a tua dor.
Expulsaste-me, apenas a pele a me cobrir o corpo, a me proteger da fria estação. Expulsaste-me, acusaste-me, traidora, não mereces perdão!.
Fria e desatenta, deixei-te passar. Fria e desatenta talvez não soubesse amar. Ria e acalenta, ainda é hora, sobe a montanha, sabes escalar.
Lábios... O beijo, talvez o riso... Quem sabe túnel comprido, interminável, céus da antiga Hélade.
Viste-me, vieste até mim, venceste-me...
O beijo, nada mais definitivo, tua umidade, perfumas-me com a essência do teu ser.
Paraísos, todos sempre perdidos. Paraísos, ao acaso me descobriste. Perdeste em definitivo.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Importas-te? Oh, se te importas... Pago a sobretaxa.
Gaguejo, rumorejo, sacolejo, e vai-se o poeta com sua bolsa vazia, palavras derramadas no leite frio.
Os números primos são sempre sós, palavras fora do dicionário, vizinho fora da vizinhança, quem espera nunca alcança, nunca a fiança...
Sei que sempre quiseste ser meu par. E eu, sempre o desejo de ser ímpar.
Paisagens. Uma revolução em pleno agosto. E eu nua. Teus braços plenos de armas.
A paisagem da Glória. O benco de Bandeira. Eu só, no beco. O que poderia querer mais?
Despedes-te de mim para me ter de novo logo à esquina? Impossível tua onipresença. Impossível toda onipresença. Solidão do poeta é a sina..
A escrita é um fio. Mas não acendas, estopim disfarçado.
Tantas as tramas, romances para todos os gostos, histórias... Por que não escreves uma? Pega o fio, logo à porta do vizinho.
Gramáticas, modo de fazer; matemáticas... quantos de você?

Saudade, o verso
saciedade, reverso
sacralidade, regresso.
Distorce as cores, chega ao seu avesso, retorna à tonalidade original, à cor que jamais existiu.
Leituras, vozes destoantes, o poeta. O poeta é o eu no estado mais puro. O poeta não é o eu no estado mais puro. O poeta é o não é.
Estrangeiro o verso, apesar de em língua materna; estrangeiro o poeta apesar de nascido entre os seus; morto o homem, a mulher quando poeta.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Amor, minha palavra é roupa precária a me cobrir a pele. Amor, vai, piedade, esconde minha nudez entre as metáforas que ninguém entende.
Encomendas a carne, o açúcar, o sal, compras de supermercado. Encomendas-me o verso, o terço, religião falseada entre línguas estrangeiras.
Dei-te o tema, um verso, ainda que roubado de livro alheio; agora dá a partida, automóvel mordido em noite fria. É tua a pena, é tua a sina.
Tuas mãos escorregavam naquele namoro de criança, tuas mãos a procurar-me, a encontrar-me, e eu aflita, a porta aberta, a luz da sala acesa.
A lâmpada acesa, a luz sobre página de versos; a lâmpada acesa, teus olhos, nobre luz, a manchar minha literatura.
Inventa alguns versos, mesmo que pobres e sem sentido;inventa a literatura, assim marcharás, ainda que enganosa a marcha, ainda que sem lua.
Não gosto de retratos nas paredes, gosto das paredes vazias, formas nuas de traços do tempo, geografia de juventudes, amores extintos.
Tens o sol no coração, mas não me ilumines nem me queimes a pele. Melhor a lua noturna a me esconder de ti, a granjear, no gelo, o teu amor.
Não torce meu verso. Não trabalho com a forja, onde se pode sempre dobrar o ferro. Não torce meu verso. No que digo, vale o escrito.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Deixo um pouco para amanhã, quem sabe. Mas haverá amanhã? Pode ser que fiques sem poesia..
Há palavras vivas: aragem, frêmito, vestido... Vestido? Vestido, o que tem? Sobretudo se vou dentro.
Não me chames de anjo, se sou anjo, sou o que tenta, não o que guarda... De sua Angélica, perdão, Gregório.
Acordas tão tarde. Já não será possível que me encontres. A multidão, sempre a multidão, tantas as palavras, tantos os amores.
Me vês com os olhos do coração. Sou turva. Pois acerta a perspectiva, verás que adiante vem o abismo.
Saudade, dor, punhal selvagem, sou amante de todos os tigres.
Era como se ela houvesse partido. Me surpreendes a roubar um verso. Era como se ela houvesse partido. Me surpreendes sem bolsos, toda nua.
Toca minha carne, meu corpo quente. Não, não esperes, não, não. Não demora que esfria...
Sempre temi os navios, tão grandes, tão pesados, gigantescos. Apesar de, flutuam...
Tão fresca a chegada do amor, aurora matinal orvalhada... Tão fresca a chegada do amor... Corpo novo, acoplamento no espaço.
Versos que fluem, imediatos, em estado bruto, versos que fluem sem que se possa dizer diamantes, dirás faltar a lima ou, talvez, cascalho.
Descobre-se o amor em em meio às poéticas imagens pavorosas de Dante. Descobre-se o amor, até mesmo no Inferno.
Descobre-se o amor... num canto de jardim, numa flor, no sorriso de uma criança, no beijo roubado daquele que queremos como nosso amante...
Dizia não gostar de poemas, apenas de livros técnicos. Mas não sabia que sua engenharia naval fora estudada a partir de um verso de Homero.
Livro de poemas: Inferno, Purgatório, Paraíso.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Enrodilhaste-me, florestas de braços, pernas e dedos; em contrapartida dou-te a seiva...
Oh, não me entraves o caminho com germanias; não conheço-te a língua, mas sei do teu ardor.
Chuvisco de luz, a madrugada a te queimar, pulsar andaluz a apontar caminhos, que talvez não te levem a lugar algum fora do meu coração.
Sou bailarina alçada, giras-me, eixo a me respingar à pele todos os ventos, confluência sísmica de pontos cardeais.
Uma chuva luminosa transforma-me em água. Sou espelho à última estrela, cintilância fugaz, passageira rubra antes do sol.
Fadas pequeninas tocam-me com suas varinhas. Querem-me bailarina. Mas esqueceram que em terra de homens os anjos precisam vestir-se.
Folhas rolam pelo chão. Fim de estação. Gravidez. Os frutos virão, os frutos verão...
Feiticeira, sei que teria o poder de atordoar-te. Mas prefiro teu rosto alvo, teu beijo à contra-luz.
Arco de luz, meu céu no exílio.
Sorriso, máscaras estrangeiras, carnaval de Veneza, meu rosto congelado.
Alvoradas, sempre a esperança, os olhos limpos, água matinal a me respingar pelo dia.
A névoa a me cobrir os olhos. teu sorriso oculto em nau

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Esquece a disputa, olha o meu corpo, não há melhor troféu para cada Troia ultrajada.
Às armas, às armas, tira do forro a enorme lança, às armas, às armas, a luta é justa quando pela liberdade.
Salvai as naus, Jove, as naus sempre balouçantes. Com elas circunviajará todo o vosso Olimpo.
Bóreas, sempre trazes a tempestade. Por que hoje não me cobres com teus braços volumosos? Com tua força, rugidos de gigante, me acarinha...
Odisseia: Direito ao vencedor... E a quem perde? A escravidão, ou morrer em terra estrangeira.
Aos pés dos gregos, Athena, impossível não chorar por eles, mais vale apenas um herói, talvez Ulysses, do que todo o Olimpo.
Pactos nossos, talvez o deserto, talvez desastres.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Varredeiras varrem sobre a rua o infame pó dos tempos. Há quantos séculos respiro o rastro da passagem dos teus dias?
Estatura, a medida do teu fado; teu prêmio, tudo que te é dado.
Prêmio é o teu, alcança a asa do troféu, levanta tua Lídia e aponta quão alto é o céu...
Sou Lídia, aprecia a lágrima fugidia, dos teus da justiça os dias.
O fado, tal Dante e sua Beatriz; o fado, fulgor, mãos dadas, pairar sobre o paraíso, alados.
Viver a vida mais do que a vida, viver sobre a corda dos dias, precário o equilíbrio, luva de seda a sustentar o bastão longilíneo.
Sou a mesma do albor dos teus dias... Sou fada a transformar-te, sal da lagoa, sal de mar aberto.
Há quantos séculos aprecio as ruínas da Necrópole? Tornei-me a ruína dos teus dias...
Envelhecer, distinção no ato de amar.
Torno o olhar, sempre à contraluz. Perde-te de mim? No teu amor, perco-me eu.
O sol doura-me as retinas, fujo ou alimento o desvario?
Cores, olhos em delírio, cores de repouso.
Abelhas sobre flores, sol sobre a relva, trago-te o mel.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Outono, queda d'água a me respingar as mãos. Outono-me, torno-me água, transparências.
Dizes-me para colher as horas... Mas vou de outra colher, bebo-te, quero o teu desejo.
Tua carícia, sempre o meu corpo, sempre a contrapelo. Tua carícia rouba-me a roupa, lança-me louca... Mas tudo moinhos de vento,
Desejo, sempre o desejo, para onde me levas? Desejo, sopro em língua estrangeira, perco-me em aduanas de morte anunciada...
Ruídos na vidraça da sala. O vento atravessa-me o poema, Faço rimas no intervalo de silêncios, arrepios douram-me a pele.
Canto-te uma canção. Mas não a mesma. Canto-te uma canção, enquanto a vidraça nos protege do vento.
O pátio onde brincávamos... É outra a estação, crianças que não são mais crianças, o sol atravessa o meio do dia.
Cores de outono, traços de moça, a pele, o poema maduro.
Janelas e livros, meu corpo, página para teu poema...

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O puro amor? Talvez seja preciso morrer...
Um trem onde se viaje eternamente, um trem girando em torno de um planeta menor.
Túneis e mais túneis tiram-me o norte, não há bússolas que os resistam. Túneis roubam-me a intuição do tempo. Quantas as horas?
Oh, os suicidas. Desde criança os via como homens e mulheres desesperados. Oh os suicidas, antes talvez tenham sido anjos, por isso o salto.
Há varias matizes para o azul. Sabes distinguir todas elas? Sabes o sabor do amor.
Anjos estão mais para o amor... Sempre anjos, mesmo com as asas partidas.
Há de se sempre temer as torres. Não porque se atirem nelas aviões, mas por se atirarem delas homens que n'algum momento se acham voadores.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Se troco o sim pelo não? Tudo uma questão de prazo.
Transformações, a ferrugem dos dias.
Preferes um ou, se és homem, uma? Prefiro o.
Gente e mais gente, o saguão da rodoviária. Onde a identidade?
Há o dia em que a gente não pode coçar-se.
Irritantes as minhas diversas faces? Procuras a verdadeira? A verdade é uma questão filosófica.
Dias imutáveis, estátuas à flor da pele.
Um poema? E ainda com o tema? Prefiro perder-me numa noite de Copacabana... O meu lema.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Maternidade: vinde a mim as crianças. Mas não as quero dentro do útero.
Asas, sempre as quisemos. Asas, o voo no céu límpido. Quero voar nas tempestades, o voo claro em meio ao céu vermelho, voo sem asas.
Bordados, nuvens, fumaça dos aviões, teu nome que me escapa, lembrança que se desfaz...
Um manto, talvez real? Um manto para esconder-me, um manto para imaginar-me.
Tenho uma estrela no lugar do coração. em vez do ritmo compassado, às vezes alucinado, apenas o brilho, mergulho no abismo, eterno.
Margens... Por que sempre estás do outro lado do rio? Vou nua. Quero ver se atravessas.
Cantam as horas, sempre a mesma música. Não se suportam as perdas...
Os poetas gostam de comparações: sou o rio que vai fluindo... Sou o rio represado, sempre a mesma água, e se solta, destruidora.
Fantasmas sempre há, pleonasmo dizer fantasias fantasmáticas.
Tenta esquecer-me, a lembrança de minha face, de meus olhos, que sempre levas contigo não sou eu, fantasia acridoce do teu pensamento.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Velho piano, o som que vem do mar...
Sonho caravelas, e sempre vou a estibordo. Sonho caravelas e vou pelo mês de abril.
É a neblina, a vaga neblina. Dentro dela será que vem D. Sebastião?
Há vasos nas janelas, o verde resiste ao vendo que vem do mar. À terra fértil, mistura-se a areia da praia. Olho, sozinha, o horizonte.
Que vento bom, sopra o oceano. Bom seria voar, planar a trina metro da crista de todas essas ondas.
Ruas sem nome, adivinho os moços que trilharam sobre suas pedras... Joões, Josés, Manuéis; houve um que me amou, sem nome, assim como a rua.
Poemas inconclusos, pedaço líquido do mar, que já não sei se me pertence.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Oh, tantos os mares, navegar, navegar... Qual o destino? Na verdade, vais sempre no mesmo lugar.
Possessões, latifúndios. Por mais que marches, não escapas da palma de minha mão.
Perdido e só, avanças. Tens o universo inteiro a explorar. Perdido e só, te cansas... Melhor meu corpo, e só.
Eternamente o amor, e eu tão terna. Irônico o destino, melhor me representares como faço a ti, em versos. O inverso? Aborreço-me.
Sou tua amante, romântica, pálida, mórbida. Serei melhor se morta.
Tesouros e mais tesouros, no fundo de todos os mares. Tesouros... melhores quando escondidos.
Juras me amar eternamente? Só o conseguirás se me perderes...

sexta-feira, 5 de abril de 2013

As coisas mais simples... o pão com manteiga, um açucareiro, estar com você do abismo à beira.
Não quero amar. Quero que tudo seja amor. Assim não precisarei amar.
Oh, soldados, soldados na Montanha Mágica, Castorp no pântano. O século XX. Ziemssen está morto.
Anjos... Sempre achei os anjos tão terrenos, sempre gostei de suas asas brancas, como o puro amor, como uma lágrima de saudade.
Quero os segredos e o êxtase dos amantes noturnos. Eles sempre se amam como se houvesse um rio prestes a transbordar, à porta de casa.
A aurora apaga-se, vem o sol forte... Queria tanto parar as águas do rio, queria também poder segurar o sol. Queria você sempre amanhecendo.
Vês o fogo das constelações? Talvez muitas já estejam extintas. Talvez esse fogo seja como o verdadeiro amor. A gente jamais esquece.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Mamãe avisou que vinha. Sempre mamãe a me vigiar. Mamãe, por favor, não me roube o namorado!
Uma senhora magra... Talvez um espelho para a minha ansiedade. Deixa-me experimentar o teu vestido? Ficas tão bem amparada... Apenas o luar.
O luar deixa rastro provisório na noite marítima. Além, as espumas, provisórias também. Na areia, eu, meus pés a confundir amores matinais.
A primeira vez que viste Tereza... Não me chamo Tereza. Nem tenhas tanta certeza. O amor é volúvel. Um dia ama-se um; outro, no seguinte,,,
Penhor... Quanto vale o que sentes por mim? A pulseira de ouro? Mas tenho muitas pulseiras de outros...
Ficou-me um pó agarrado ao suor depois de tua passagem. Quis dizer-me que somos tão precários, ou foi o sinal de teu ardor?

quinta-feira, 28 de março de 2013

Desvencilhar-me dos meus vícios, escrever uma poesia pura. Teria de lavar infinitamente as minhas mãos... Não sobrariam mãos.
Não gosto de rios, não gosto de Heráclito. Quero sempre as mesmas águas..
Magia: Queres o poema profundo, que te toque a alma, que te libere dos desatinos. Mas atravesso a rua de uma cidade grande. Vou urbana.
Luvas,.. Minhas mãos não sentem teu calor.
Espera-me. Queres de mim o que não posso te dar. Espera-me. Queres de mim revelações. Talvez uma Clarice. O máximo que te ofereço é o vazio.
Barroca. Mil volteios, o mesmo lugar. Todo o dicionário; todas as combinações, sintaxes eruditas. Quis Gôngora. Bateu-me à porta Cervantes.
Procuro um assunto. Assusto-me, O poema sobre a falta de. O poema é sempre sobre uma falta. Falas sobre tudo? Falas sobre nada.
Canta-me a esperança. Quem espera nunca alcança... Ou não? Quem espera, a lança. Melhor na mão do artilheiro.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Se o mundo é tão ruidoso, faze do avesso do mundo o teu poema...
Poemas espelham inquietações, poemas espelham amanheceres. Amanheces sempre inquieto?
A poesia: silêncio, pássaros não voam à noite.
Atiras-me facas, sempre o mesmo truque; as setas, arqueiro. Onde escondes o arremesso?
Sussurros, gemidos, depois a morte, ainda que pequena. O sono.
A voz, o canto, curto o espaço entre duas eternidades. Explosões estelares, apenas.
Tuas mãos, teus dedos, piano o meu corpo... O que mais nos restará?
Olvido: o perfume torna fresca a memória.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Queres o meu sorriso? Tê-lo-ás. Pega-o, dependura-o na parede da sala. Toda Monalisa é uma máscara.
Olha a mim. Já não trago as cicatrizes? Repara a minha alma.
Longa a pausa entre um poema e outro; longa a pausa entre o ponto e o reinício. A pena sobre a mesa. A gestação... Todo poema é um parto.
Ser diferente? Todos os homens, todas as mulheres... Talvez as cigarras, o mesmo canto.
O que resta... o que cresta... o sol.
Verdade... Cada um tem a sua. Desde que não deixe um rastro de sangue.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Não, não te mates. Ou já morrestes? Não, não te mates...Mas se já vais a correr, se já vais a meio caminho, lembra-te, ainda é longe o chão.
Férias, um beijo perdido (ou ganho), numa estação, junto com o sol, logo de manhã...
Adormecer nos teus braços... Ou simplesmente adormecer nos teus sonhos, sentir-te invisível ao toque sútil da imaginação que me roça a pele.
Deixa-me esparramar sobre o sofá, deixa-me as palavras fluírem, saírem pela janela, perderem-se longe de mim, de ti, entre olhos alheios.
Ias sem camisa. E lá atrás o mar, a arrebentação. Não sei por quê, achei que as espumas brancas combinavam com teus dentes, com teu sorriso.
Andar a pé... Nada de lutar contra o verão. E se chover, nada mal uns pingos sobre a cabeça, o cabelo molhado. Andar a pé envolta em branco.
Comove-me sempre ouvir um coro de meninos. Tão felizes esses meninos. Suas vozes revelam que o mundo é feito todo de música.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Os poetas são os maiorais, ninguém jamais consegue dizer algo melhor do que eles. Esquece os poetas, abraça-me, verás então o que é lirismo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Brinca-se com palavras, brinca-se com lavas. Quem há de enfrentar o vulcão?
O céu vai baixo. Ou sou eu que vou alta?Meus miolos azuis.
Sorteiam-se, vários exemplares, e mais alguns pares. Pares? Todos precisam estar atentos, todos em seus lugares...
Literatura enferma, ou sick-lit? Quais dos grandes personagens inteiramente sãos?
Transcendente a poesia, não posso ir além de mim. À flor da pele... Apenas a flor. E a pele.
Namorados, dados que rolam, vou longe da lata de biscoitos.
Azul a planar na temperança do céu, aves invisíveis...

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Desequilíbrios dos mares, naufrágios; o quanto sou Ulisses para uma Odisseia? Nave negra bojuda biforme, devolvei-me à minha Ítaca.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Ler O guarani... Tão bom! Ler O guarani, ter saudade de batata doce, mandioca, abacaxi...
Ele acreditava que não havia outro mundo. Isso se deu antes de me conhecer; depois, entrou em órbita; a seguir, feliz a aterragem.
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho. Mas após um pesadelo sempre se tem medo de entrar nele novamente.
A espada, lâmina de aço, penetra-me num contraste de prata rubra. A espada, tão letal, divide-me, mil os pedaços, mas nasce um outro de mim.
Paisagem do Capibaribe: a cidade é passada por caranguejos, como no carnaval o cão desfila sem plumas e sem saber que é carnaval.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Todas as manhãs, todas as primaveras, sobretudo as de Praga.
Estônia, tantas palavras em uma língua que não entendo, letras em outro alfabeto. Mesmo assim sigo-te, quero-te a iluminar-me a imaginação.
Manhãs mediterrâneas: Ulysses voltou para Ítaca porque Penélope não lhe negava o café da manhã.
Manhã que me chega em língua estrangeira, manhã ligeira, ora ensolarada ora chuvosa. Manhãs nervosas sobre o teclado, o poema.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Doei-me. Mas só as partes onde sinto cócegas.
Amor: Moramos em casas separadas.Moramos um dentro do outro.
Tanta gente esperando e eu aqui cochilando. Um bocejo, rumorejo. Não vou dizer que entre palavras me vejo. Prefiro te mandar um beijo...
Tantas as cores, será que consigo perceber todas as nuances? Tantas as faces, mas consigo distinguir você.
Diferença: um corte a mais de tecido, a estampa de uma flor, o beijo inesperado, tuas mãos e o anel, o retorno de Ulisses.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O anel que tu me destes era vidro e se quebrou... Traze-me um de ouro, ouviste. Um de ouro, pois sou muito valiosa!
Daqui posso ver todo o vale. Um vale de edifícios. Perco-me a te imaginar nos corredores-salas-quartos. Perco-me no teu labirinto.
Procuro tua sombra, já que não te posso ter. Procuro tua sombra. Sinto calafrios ao me cobrires o sol...
Cantai, mas um canto glorioso; nenhum lamento; cantai, enquanto vos trato por vós. Vede, nossos corpos separados. Transbordam-nos os sonhos.
Para cá, para lá, para cá, para lá... Adormeço ou aproxima-se o meu momento de explosão?

Estatutário: jamais serás demitido; terás, enquanto viver, teu corpo sobre o meu.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Colorida? A explosão...
Poema: atiro-me do trapézio, não ha rede, ninguém para segurar meus pulsos.
Portas que me levam a lugar nenhum, janelas voltadas para o abismo, fio de arame, o mundo respira sob os meus pés.
Esquecer nomes, esquecer quem sou, esquecer quem és. Ninguém a saber que existimos. Apenas um traço no caminho, o rastro de uma sombra.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

sábado, 12 de janeiro de 2013

Como nomear os bois? São tantos. Não haverá nome para todos.
O velho lobo não tem pele de cordeiro. Ele não precisa de disfarce. Seus dentes, apenas eles...
O farol aponta a pedra na rota do navio. Mas o poeta escolhe a colisão.
O papel tem frente e verso. Ambos muito brancos. Despeço-me do meu poema.
A poltrona da sala de estar suporta-me. Eu leio um livro. Trapézios na janela do vizinho.
Não me queiras poeta de adivinhações. O poema precisa falar do óbvio. Já estamos fartos de poetas iluminados.
Não me coloques no teu livro andando só, pelo deserto, apenas as estrelas. Oh, o deserto está por todo lado. Cometerás um pleonasmo vicioso.
Ah, a solidão... Sempre se está sozinho. Mesmo cheia a plateia, apesar da fila lá fora.
Exceção: não vivas Ulisses. Jamais voltarás a Ítaca.
Ajuda: Estás infeliz? Escolha um personagem e saia por aí na pele dele. É tão bom. Rápido te acostumas. E conhecerás mil mundos diversos...
Não me digas que a poesia está fora do tempo. Nada está fora do tempo. Não entenderíamos as palavras nem o efeito dos sons, fora do tempo.
Espelhos, sou eu mesma? Apenas o meu reflexo, minha poesia em língua estrangeira.
Equivalências; de sons e sentidos? A tradução perfeita. Hamlet, o príncipe da Dinamarca.
Traduções, outra Ilíada, outra a Odisseia. Mas, as únicas que tenho.
Manto que me cobre, meu poema em outra língua esconde-me as pernas.
Onde estão os poetas? Já sei. Estão estudando a meteorologia...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Queres uma frase para dizer ao namorado? Dou-te uma crase. Assim, atiro-te no estrado!
Esquece as palavras, deixa meus dedos percorrerem a tua pele...
ão difícil encontrar correspondência. Na maioria das vezes, somos todos estrangeiros.
Sempre há a necessidade da plateia, mesmo que a neguem. Escrever para si mesmo é trancar-se num calabouço.
Cometário ao pé de página: o livro correu de mim.
Está na moda dizer que a poesia está no silêncio. No silêncio não há poesia alguma. O silêncio pertence aos cemitérios.
Algumas palavras nos fazem perder a cabeça: guilhotina.
Alguém diz que palavras clareiam a estrada. Mas há palavras que fazem o mundo permanecer na mais absoluta sombra.
As palavras são políticas, facilitam a convivência entre os homens (e entre as mulheres!). As palavras são usadas nas declarações de guerra.
Palavras são pontes, na maioria das vezes partidas...
O ano novo veio e tu não vieste. O ano novo veio, tu não voltaste. O ano novo ficou velho. Ah, bobagem, sempre quis acreditar no ano novo...
Disseste-me que palavras têm cor. Palavras escarlates saltam-me da boca, chocam-se com teus lábios. Tu me engoles. Ah, a ponta de meu batom!
Revoada de águias... Onde encontrar águias? Onde a poesia?
Tudo o que se pode nomear é concreto, mesmo que o nome seja apenas uma tênue névoa.
Não há palavras abstratas. Todas dispõem da mais absoluta concretude. Não se pode naufragar no fundo mar chamando os abismos de insondáveis.
Pane, banquinho azul e toalha vermelha.
De dentro de uma caixinha de fósforos sai uma quenturinha... será o meu ardor por você, ou sou sem-vergonha mesmo?